Os impactos da seca prolongada no Brasil já desenham um cenário preocupante, com o país enfrentando a maior escassez de água desde 1950. A falta de chuva, as queimadas e as ondas de calor não só estão deteriorando a saúde pública, mas também afetando drasticamente a geração de energia e a produção de alimentos. O futuro próximo não promete alívio, com previsões indicando que as chuvas permanecerão abaixo da média.

Foto: Jornal de Itirapina
A seca já se espalha praticamente por todo o Brasil, mas algumas regiões estão sofrendo ainda mais. Estados amazônicos como Acre, parte do Amazonas e o norte de Mato Grosso enfrentam uma situação crítica, e o semiárido nordestino está à beira de um agravamento nas próximas semanas. Mesmo os especialistas, acostumados a estudar esse fenômeno, ainda se perguntam o que está acontecendo. O aquecimento dos oceanos, o desmatamento e essa seca prolongada podem estar interligados, mas ainda há muito a ser desvendado.

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A pesquisadora Luz Adriana Cuartas, do Cemaden, admite que o cenário é difícil de explicar. Algumas áreas já acumulam mais de 12 meses de chuvas abaixo da média. E o que está por vir não traz otimismo: o calor continuará acima do normal, e apenas a região Sul, marcada por enchentes no início do ano, deve registrar volumes significativos de chuva, segundo o Inmet.
O impacto é visível, principalmente no setor agrícola. A seca ameaça não só o abastecimento de água, mas também a geração de energia e até a navegação fluvial. Cidades no interior de São Paulo e Minas Gerais já estão recorrendo ao rodízio de água. E como o Brasil depende majoritariamente de hidrelétricas, a redução no volume dos reservatórios faz com que a energia fique mais cara. Com a bandeira tarifária vermelha ativada pela Aneel, o custo para os consumidores subirá em setembro, justamente em um momento em que o calor impulsiona o consumo de eletricidade. Os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que são fundamentais para a geração de energia no país, devem atingir níveis preocupantemente baixos, com queda de 50% em relação à média histórica. O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde de Castro, destaca que, embora o risco de apagão seja pequeno graças ao aumento da geração por fontes renováveis, o custo de acionar termelétricas, mais caras e poluentes, será sentido no bolso do consumidor.

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Além da questão econômica, os efeitos da seca e do calor extremo estão levando a um colapso no setor de saúde. A combinação de fenômenos como as queimadas e o calor provoca doenças respiratórias. Na Amazônia, a escassez de água potável e o aumento das queimadas criam um cenário alarmante. Comunidades ribeirinhas e indígenas estão isoladas, o que dificulta o acesso a cuidados de saúde. Em algumas regiões do Amazonas, surtos de malária já começaram a ser observados. Os pequenos agricultores também sofrem as consequências de forma intensa. No norte do Mato Grosso, Acre e Amazonas, a agricultura familiar está à beira de grandes perdas. O cultivo de feijão e milho, essenciais para a subsistência, corre o risco de ser dizimado. E a pecuária também enfrenta dificuldades, com as pastagens degradadas pelo calor e a falta de chuva. A produção de grãos no Brasil para a safra 2023/2024 está estimada em 21,4 milhões de toneladas a menos em relação ao ciclo anterior, com a soja sendo a principal vítima.
Enquanto a comunidade científica se esforça para entender as causas da seca, Luz Adriana Cuartas lança um alerta para a sociedade: estamos destruindo o planeta com queimadas e desmatamento, e isso está voltando contra nós. A conexão entre a forma como tratamos o meio ambiente e o impacto direto em nossas vidas não poderia ser mais clara. A pergunta que fica é: o que faremos com essa realidade?