NotíciasBrasil decidiu apostar no gás natural, diante de uma crise climática cada vez mais intensa.

16 Setembro, 2024


Diante de uma crise climática cada vez mais intensa, o Brasil decidiu apostar no gás natural, na tentativa de reduzir sua dependência de fornecedores externos e, ao mesmo tempo, baratear o custo da energia. Com a seca histórica baixando os níveis dos reservatórios e colocando as hidrelétricas em risco, o governo anunciou medidas para aumentar a produção interna de gás. Mas a escolha tem levantado sobrancelhas: afinal, não estamos falando justamente dos combustíveis fósseis, grandes vilões dessa crise que estamos enfrentando?

Brasil decidiu apostar no gás natural, diante de uma crise climática cada vez mais intensa

Um decreto assinado no final de agosto promete criar um “choque” de oferta no mercado de gás natural, na expectativa de reduzir seu preço. Para isso, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) terá mais poder para exigir o aumento da produção em campos já em operação. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu a medida, afirmando que ela ajudará o Brasil a depender menos de fornecedores externos e trará benefícios sociais e econômicos. O papel do gás na transição para uma energia mais limpa é tema de calorosos debates. Para Sylvie D'Apote, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o gás natural ainda é uma opção acessível e segura para o Brasil, especialmente enquanto tecnologias como o hidrogênio verde não estão disponíveis em larga escala. Contudo, críticos, como Carolina Marçal, do Instituto ClimaInfo, alertam que essa aposta pode retardar o avanço das energias renováveis e manter o Brasil preso a uma fonte poluente por décadas.

Segundo D'Apote, o gás natural é usado principalmente no setor elétrico e, diante do quadro de poucas chuvas e nível baixo de água nos reservatórios hidrelétricos, é previsto um despacho elevado das térmicas movidas a gás nos próximos meses. Além deste quadro, a "demanda de gás natural no Brasil é, sobretudo, no setor industrial, enquanto o uso residencial e comercial é baixo, ao contrário do que acontece na Europa", afirma a diretora do IBP. O país utiliza ainda o gás em parte de sua frota automotiva, com destaque para o Rio de Janeiro. Quais os efeitos práticos? Há certo ceticismo sobre o governo alcançar os objetivos anunciados, além dos temores como uma maior intervenção no setor. "As recentes medidas tiveram um efeito maior na produção doméstica de gás e nas perspectivas de mercado do que um impacto direto nos negócios", indica Vínicius Romano, especialista em gás natural da América Latina da consultoria norueguesa Rystad Energy. Na sua opinião, no Brasil, o gás natural é "uma fonte chave de fornecimento flexível que se adapta bem à forte matriz energética renovável, o que segue mesmo após o decreto". Por outro lado, ele avalia que a determinação, que reduz o controle sobre os planos de produção, pode aumentar os riscos e afetar negativamente os investimentos no setor. "O problema com este excesso de oferta forçada é que a maior parte da produção de gás do Brasil está associada ao petróleo. Isto significa que, para produzir menos gás e equilibrar o mercado, a produção de petróleo também poderá diminuir, comprometendo as receitas dos investimentos ou a atratividade de novos projetos", pondera. Ainda assim, ele acredita que o governo pode ter êxito em reduzir os preços aos consumidores através da alta na oferta.

Além disso, cresce a preocupação com o possível uso do fraturamento hidráulico, o polêmico "fracking", para extração de gás em áreas do Amazonas, Pará, Piauí e Maranhão. Proibida em países como Alemanha e Reino Unido, a técnica já desperta interesse de empresas que desejam utilizá-la no Brasil, o que pode trazer graves impactos ambientais e sociais.

Enquanto isso, o setor de gás no Brasil segue avançando. Com novos projetos no horizonte e um investimento estimado em R$ 94,6 bilhões nos próximos anos, a expectativa é de que a produção aumente, ajudada por empreendimentos como o Gasoduto Rota 3 e o projeto Sergipe Águas Profundas, que deve começar a operar em 2028. Apesar disso, o país ainda depende de importações, principalmente da Bolívia e dos Estados Unidos, para suprir sua demanda interna.

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