NotíciasA Terra com anéis: novas evidências sugerem um passado similar ao de Saturno.

29 Dezembro, 2024


O estudo das crateras de impacto deixadas por asteroides na superfície terrestre continua a revelar capítulos surpreendentes da história do nosso planeta. Atualmente, conhecemos 190 dessas crateras, registradas na Earth Impact Database, cada uma testemunha de colisões cósmicas violentas. Recentemente, um estudo trouxe à tona uma hipótese fascinante: em determinados períodos da história terrestre, a taxa de impactos aumentou significativamente, possivelmente em decorrência da fragmentação de um único asteroide próximo à Terra. Essa desintegração, causada por efeitos de maré gravitacional, pode ter originado um anel ao redor do planeta, semelhante aos de Saturno, que ostenta entre 500 e 1.000 anéis feitos de poeira, gelo e rochas.

A Terra com anéis: novas evidências sugerem um passado similar ao de Saturno

imagem: Kevin M. Gill, CC BY

Um aumento súbito de crateras no Ordoviciano

Embora impactos de grandes asteroides sejam raros – com frequência média de uma colisão a cada dezenas de milhões de anos –, um estudo liderado por Andrew G. Tomkins descobriu algo impressionante: durante o período Ordoviciano, há cerca de 466 milhões de anos, formaram-se pelo menos 21 crateras de impacto na Terra. Para entender essa explosão de colisões, os pesquisadores recorreram a técnicas avançadas de reconstrução de placas tectônicas e análise isotópica.

Esses métodos permitem "zerar" o relógio isotópico de minerais submetidos ao calor extremo dos impactos e, assim, determinar a idade das crateras com precisão. Além disso, as crateras analisadas apresentaram características que as conectavam: todas foram causadas por meteoritos do mesmo tipo, conhecidos como condritos do grupo L, material comum em asteroides indiferenciados. Isso levou os cientistas a sugerir que essas colisões eram resultado da fragmentação de um único asteroide.

Para explicar essa peculiaridade, os cientistas consideraram um cenário em que um grande asteroide ultrapassou o limite de Roche da Terra – um ponto em que as forças gravitacionais do planeta superam a coesão do objeto, levando à sua fragmentação. Um evento similar foi observado em 1992, quando o cometa Shoemaker-Levy 9 foi dilacerado pela gravidade de Júpiter, antes de colidir com o gigante gasoso.

A Terra com anéis e suas implicações climáticas

Os fragmentos desse hipotético asteroide poderiam ter formado um sistema de anéis ao redor da Terra, visível como uma faixa brilhante ao longo do equador. Esse anel teria durado cerca de 40 milhões de anos, enquanto seus materiais gradualmente caíam na superfície, criando as crateras que conhecemos hoje. Mas a presença de um anel não seria apenas um espetáculo visual: ele também teria implicações climáticas significativas.

Os pesquisadores sugerem que um anel equatorial poderia alterar a inclinação do eixo terrestre e a distribuição da radiação solar. Invernos mais rigorosos e verões levemente mais quentes poderiam ter marcado essa época, contribuindo para o resfriamento global registrado no Ordoviciano. À medida que o anel se dissipava, essas alterações climáticas também teriam desaparecido, possivelmente explicando o rápido aquecimento ocorrido entre 444 e 437 milhões de anos atrás.

A hipótese de que a Terra já teve anéis como os de Saturno é fascinante e está ganhando força à luz das descobertas recentes. O trabalho de Tomkins e sua equipe, publicado recentemente, lança luz sobre um cenário em que eventos cósmicos moldaram não apenas a geologia, mas também o clima do planeta. Embora muitas questões ainda precisem ser respondidas, uma coisa é certa: as rochas continuam a ser os arquivos mais antigos e confiáveis da história terrestre. Cabe aos geólogos decifrá-las, página por página, em busca de novas revelações sobre nosso passado cósmico.

Pesquisador Principal do Grupo de Meteoritos, Corpos Menores e Ciências Planetárias, Instituto de Ciências Espaciais (ICE - CSIC). "Este texto foi divulgado em um site de ciência e está sendo reproduzido aqui conforme a licença Creative Commons."

Para acessar a versão original, clique aqui.

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